Convivência virtual na pandemia alerta para perigos do cyberbulling

Ansiedade e depressão podem ser efeitos dessa exposição e a parceria entre família e escola são fundamentais no processo de identificação de casos entre estudantes

Foto: Divulgação

O último dia 7 foi marcado pelo Dia Nacional do Combate ao Bullying, que é a prática de atos violentos, intencionais e repetidos contra uma pessoa. “Em tempos de isolamento social, grande parte das relações e interações passaram a acontecer virtualmente, levando a uma incidência maior de casos de cyberbullying, quando a violência acontece por meio da internet”, diz a secretária municipal de Educação, Eerizania de Freitas.

O mestre em Direitos Humanos, Santiago Plata, faz alguns alertas para que as famílias juntamente com a escola possam identificar e solucionar esse problema, visto que os efeitos da exposição ao cyberbullying em crianças e jovens não são apenas físicos, mas principalmente psicológicos.

Santiago explica que um fator que contribui para essa prática violenta e ofensiva é a falta de orientação e acompanhamento dos responsáveis, e por mais que as crianças e os adolescentes dominem os botões e teclas, eles não vão dominar as outras dimensões se não tiverem uma educação para o uso crítico. “Muitas vezes o cyberbullying acontece em ambientes nos quais os pais e os educadores não fazem parte, como jogos, chats, redes sociais, entre outros. Por isso é muito importante que os responsáveis estejam presentes e tenham acesso aos conteúdos acessados por eles”, observa o especialista acerca da importância do diálogo entre família e escola.

Para ele, é importante entender que o cyberbullying não é um problema somente entre duas pessoas, aquele típico entre o agressor e a vítima. Ele envolve uma complexidade maior de situações que tanto a família quanto os educadores precisam estar atentas na hora de identificar o problema. “Uma prática bastante comum é o cyberbullying indireto, onde o agressor não é o responsável pela postagem ofensiva, mas interage com a agressão rindo, brincando, compartilhando e intimidando. Isso também é fazer parte desta violência”, analisa Santiago.

O cyberbullying não é uma brincadeira, mas um problema que pode levar a violências sérias e situações graves na vida das vítimas. As crianças são especialmente afetadas por estarem na fase de formação e desenvolvimento da sua moral, compreensão e aprendizado, e esse tipo de situação acaba gerando consequências no desenvolvimento delas. “Essas intimidações podem causar problemas como ansiedade e depressão, além de consequências futuras”, alerta.

J. R tem 14 anos, é estudante da rede municipal de educação, e sentiu na pele o que é ser vítima desse ataque virtual. “Eu tinha uma relação muito boa com os colegas da escola, mas de uma hora para outra eles começaram a me excluir e pararam de conversar comigo”, conta a adolescente.

A mãe da estudante percebeu que havia algo de errado no comportamento da filha, pois ela era muito estudiosa e participativa e já não queria mais participar das aulas ou sair do quarto. “Foram dias difíceis, ela só chorava, me vi perdida sem saber o que fazer, precisei sair do emprego para dar mais atenção a ela.” A mãe conta ainda que encontrou na escola o apoio essencial para que o problema fosse resolvido e hoje é muito grata à instituição pela intervenção da equipe gestora que forneceu ajuda necessária para a recuperação da estudante.

A escola é parte da solução


O assunto faz parte dos temas transversais trabalhados na rede municipal de ensino, e foi transformado em regulamento pela Escola Municipal Pedro Ludovico Teixeira. O Estatuto do Bullying foi desenvolvido em 2018, e se baseia no código penal brasileiro e na constituição federal que contém artigos sobre as consequências para quem comete tal ato.

“O Estatuto do Bullying nasceu de um projeto da Secretaria Municipal de Educação e foi desenvolvido pela escola. Tem sido maravilhoso trabalhá-lo com os estudantes, pois eles ficam conscientes das suas ações e dos impactos que elas têm na vida do outro”, afirma Laura Penha, coordenadora pedagógica da unidade.

O Estatuto foi criado pelos estudantes com apoio pedagógico, e nele constam as ações que devem ser tomadas para que tais atitudes não aconteçam ou se repitam. Laura afirma que identificar os envolvidos em ambiente escolar presencial é mais simples do que por meio das aulas remotas. No caso da estudante citada anteriormente, a atuação conjunta entre a mãe, que identificou o problema, e a escola, que interveio na relação da estudante com os colegas, foi fundamental.

Apesar da dificuldade de se identificar situação de bullying nos meios virtuais, a coordenadora está confiante no trabalho da equipe escolar, pois envolve os estudantes expondo formas de prevenção a essas práticas ofensivas, e automaticamente os próprios colegas conseguem identificar e tomar providências.

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